Dia 25 de Maio comemoramos o dia da África. Por que comemorar-se o dia da África? Quem levanta essa questão da mesma forma deveria se questionar pelos motivos que leva um mozambo na sua empreitada perene em sua tentativa frustrada de aceitação, a priorizar a etnia monorracial dominante que lhe rechaça? Sendo eles parte do segundo país com maior número de negros no mundo...!?? Esse mozambo gerado no não-lugar e gestado no entre-lugar, vivendo sobre o jugo da não-identidade, tendo sido negada sua inserção na sociedade? Tendo por esse motivo, optado compulsoriamente pela branquitude, como única possibilidade de aceitação, renegando a negritude como auto-defesa?
Apesar de essa opção ter se redundado em rotundo fracasso, traduzido pela miséria e desemprego, decorrente da assunção desses valores alienígenas, ele continua a insistir involuntariamente em ser uma peça, um objeto, um escravo de ganho. Vivendo nessa conjuntura, destituído de sua identidade e de si mesmo, ele abraça as referências eurocêntricas, assumindo valores, posturas e atitudes que implicam em infindáveis conflitos físicos e psicológicos. Tendo sua identidade embotada ou reclusa por esse processo, os conflitos se grudam nesse indivíduo, de forma simbiótica.
O difícil e complexo resgate dessa identidade, deve centrar-se num processo hermenêutico e diatópico, a fim de provocar os paradigmas postos, além da necessidade da instrumentalização e do trabalho epistemológico. Ou seja, não basta saber que existem outros pontos de vistas, não basta a insatisfação com o que está posto, não basta o simples querer; Só assim seria possível uma correção construtural.
Sem esse processo, desse novo olhar, desse novo lugar, esse caminho torna-se espinhoso; o indivíduo permanece mozambo. Nossas crianças continuaram a serem adestradas a ter medo de suas raízes, continuarão a escarnecer e desprezar sua descendência melanodémica. Ele esqueceu-se da existência da verdade e de sua verdade, admitindo unicamente a verdade do outro.
Como forma de autodefesa, ele ri de seu infortúnio, fugindo do embate, escondendo-se atrás do próprio conflito; se desconhecendo vítima, enquanto assume a cadeira de réu. Desse modo, ele mesmo se pune quando naturaliza sua condição de réu, na assunção da representação construída para si.
O indivíduo tenta sem sucesso, medir-se pela euro-imagem, tentando alcançar a igualdade através dessa pseudo semelhança, esquecendo-se de si. Acreditando poder encaixar-se nesse papel ditado pela constituição, ele assume a branquitude vivendo a utopia da promessa de liberdade. Assim ele se torna uma pessoa que é muito e que tem pouco, trocando o tempo pelo relógio, mesmo sabendo que por mais gordo que um gato seja, ele nunca se tornará um leão. Portanto, o dia da África é o dia de revisitar nossas origens, para que possamos ser capazes de reescrever nossa própria história de vida.
Portanto, discutir temas como, AFRODESCENDÊNCIA, AÇÕES AFIRMATIVAS, IGUALDADE RACIAL ou qualquer coisa do gênero, com uma pessoa branca, e dizer a esta pessoa branca que essas questões, nada mais são do que meros pontos de distrações, advindo de um problema branco, criado por brancos, e que não me dizem respeito.
Discutir tais temas com qualquer branco que seja, seria discutir um problema criado por eles próprios para nós negros, tendo esses mesmos brancos, exigindo que tais assuntos sejam discutidos em seus termos somente, e nada diferente disso.
Desse modo, são formatadas as regras implícitas, expostas nos contratos leoninos e feneratícios que rezam nos discursos oficiais para que tais assuntos sejam encaminhados, dentro das conveniências ditadas pela indolente e arrogante branquitude, que obviamente excluem quaisquer casos que acaso fuja ao controle da subjetividade conferida positivescamente ao assunto tratado.
Os emblemáticos nomes conferidos a esses homéricos problemas criados, tais como cotas, afrodescendência, ações afirmativas, etc. por si só, já desqualificam o próprio problema, além de subestimar qualquer inteligência mediana que resolva meditar sobre o dito assunto.
Falar de afrodescendência quando temos uma questão que é puramente fenotípica e nunca, sem que em momento algum tenha sido genotípica, é de uma pobreza tão vil que não vale a pena enumerar os estúpidos pontos de contra senso e a bestialidade que isso representa.
Portanto, paro por aqui...
Falar de cotas de 20% nas Universidades públicas para um povo que soma em torno de 60% de uma população é uma piada de mau gosto extremo, além de estúpida, imbecil e perversa, digna do Curinga. Adivinha só com quem fica os 80% restantes das vagas universitárias...!?? E que representam cerca de 0,1% da população brazilleira. Não ria, é sério...!!
Portanto, paro por aqui...
Falar de ações afirmativas para um povo que foi colonizado, escravizado e humilhado, tratado como objeto; um povo que construiu esse país e toda a sua riqueza; um povo que até hoje continua sendo escravo de ganho para eurodescendentes, além de ainda ter sido impedido, desde a pseudo abolição até hoje, a sua inclusão social em seu próprio país, é no mínimo um escracho despropositado.
Portanto, paro por aqui...
Torna-se impossível levar o assunto a tão baixo nível falando-se com brancos; isso é o mesmo que tornar-se abjeto, é continuar sendo um Não-Ser, é se deixar levar-se mansamente a guilhotina, como o mitológico cordeiro bíblico se deixando imolar.
Portanto, paro por aqui...
Penso que deve ser considerado crime hediondo permitir-se que um branco fale com propriedade sobre a questão negra; questão que nunca foi de sua alçada, já que não possui a legitimidade e a devida dignidade para proferir uma história que não lhe pertence.
Portanto, não vou parar por aqui...
Como nada é 100%, a exceção deve ser aberta ao branco que tem a devida consciência de seu lugar nessa macabra história de perversidades, atrocidades e infindáveis crimes infringidos ao povo negro por seus ascendentes, e que o mesmo saiba a maneira respeitosa que deve dirigir-se para abordar tal assunto, dada a devida permissão de um mais velho. Desse modo, poder-se-ia conceder-lhe uma cota de vez, e quiçá de voz, em meio a Pretitude. Isso seria um ato de extrema generosidade e de profunda boa vontade por parte desse povo que lhe concedeu tantas benesses, riquezas e status.
Portanto brancos: só falem quando lhes for permitido falar sobre nossa história, visto que até o momento não lhes foi dada a permissão de representar a qualquer negro que seja. Salvo o negro assimilado, lacaio da casa-grande.
A melhor maneira de tentar esconderem-se da grande e pesada culpabilidade, que condizem contraditoriamente com as privilegiadas condições de vida que hoje vocês usufruem, seria a de se manterem calados a respeito de assuntos que não lhes dizem respeito: Nossa história, que é nada mais do que a história do mundo e da humanidade...
Portanto, brancos, seus problemas; racismos e correlatos; são seus problemas. Logo, fiquem com eles. Pois dos nossos (problemas); os racistas; cuidamos nós...
Agora, creio que você, branco, deve saber o que, exatamente, fazer com essa sua conversinha de igualdade racial...
Tais assuntos são impedimentos programados para se ivitar falar de nossas raízes negras...
Amo as mulheres de qualquer tipo, de qualquer raça, de qualquer cor; nem por todas sou amado.
Amo a saudade, amo os meus queridos.
Cléia a dos olhos verdes, Lourdes, a morena; a Lourdes branca; a Neusa; a Adailgisa; a Luíza da farmácia; a Carmem que fazia rendas; a Aninha, a Joaninha da torre...
Hoje amo outros nomes, a Margarida da casa, a Margarida da rua. amo a cachaça boa, o café quentinho... Odeio o opressor..!!
(Solano Trindade)
Rompendo o silêncio histórico do povo melaninoso, protagonizando o outro ponto de vista de uma outra história que se evita ser contada, afrocentrizando o olhar paradigmático sobre a representação cultural oficialmente formatada, patenteada e legítima como única.