Como diria Trindade, "Rio meu de muito tempo...Nunca me banhei no Copacabana, nunca fui ao Corcovado, nunca fui ao Pão de Açucar por tudo quanto é sagrado. As mulatas do Catete, meio escravas, meio senhoras, não me dão bola.
Das Favelas sem beleza saem sambas bem bonitos, das Favelas miseráveis saem sambas de beleza. Dormi no albergue noturno, sonhei com a amada distante, fui preso incomunicável na Rua da Relação... Na Lapa nunca fiz ponto, não fiz ponto no Lebron. As operarias têxteis, coitadas, vestem tão mal o tecido que elas tecem, não é delas, é do patrão".
Esse Rio sem rima, sem ritmo e sem rumo. Rio de raça racista, Rio sem brio, sem teto e com frio. Padre cacófago em cenas insanas com cismas sinistros. Rio de braços abertos na blitz bandida civil e militar. Rio jagunço, de braços abertos pro amigo urso.
Rio vermelho de raiva, do fogo do cano da arma disparada na cara preta, de sangue negro que corre nas viscinais, marginais e na principal. Rio negro, escravo de si.
Viva Rio na morte do carioca sem teto e sem gema. Pão de Açucar na vitrine, Pavê na TV e a mesa fartura de espaço vazio. Vazio de respaito, vazio de dignidade, mas sorrindo por estar sendo filmado algemado, mostrando a face negra contrastando com o branco olhar esbugalhado e saltitantes olheiras como companheira. Ao som da bossa burguesa, observado pela namorada, uma mulata à milanesa.
Na linha Amarela o comando é vermelho; as balas encravadas nas paredes, se confundem com os diamantes cravejados nos anéis das madames e sinhás da Zona sul, que passeiam frente ao mar azul.
Morro Palestino e asfalto Tel aviv...Lá são arrastadas Cláudias, Marias e Adelinas, sem dó, sem choro de editais de jornais matinais as mesas das negras famílias nem em seus funerais.
Amo as mulheres de qualquer tipo, de qualquer raça, de qualquer cor; nem por todas sou amado.
Amo a saudade, amo os meus queridos.
Cléia a dos olhos verdes, Lourdes, a morena; a Lourdes branca; a Neusa; a Adailgisa; a Luíza da farmácia; a Carmem que fazia rendas; a Aninha, a Joaninha da torre...
Hoje amo outros nomes, a Margarida da casa, a Margarida da rua. amo a cachaça boa, o café quentinho... Odeio o opressor..!!
(Solano Trindade)
Rompendo o silêncio histórico do povo melaninoso, protagonizando o outro ponto de vista de uma outra história que se evita ser contada, afrocentrizando o olhar paradigmático sobre a representação cultural oficialmente formatada, patenteada e legítima como única.